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Da tradição grega clássica, advém a associação entre VER e CONHECER.

Para os Epicuristas, o mundo sensível era a fonte de todo conhecimento e nele o olhar mergulhava para apreender a única realidade verdadeira. Foi principalmente o Platonismo que levou a que se enxergasse o mundo sensível como a cópia mal-acaba de um mundo ideal, daí a necessidade de reaprender-se a ver, rever-se a realidade oculta por trás das aparências que se ofereciam ao olhar. Conhecer deixou de ser aquele mergulho no sensível, para tornar-se reflexão sobre o invisível, e o olhar se dirigiu, não para a luz que emanava das coisas, mas para a luz do universo ideal que se refletia sobre elas.

A história posterior da razão baseou-se nisto: o olhar via (conhecia), mas o pensamento via (connhecia) além.
Mas conhecer é também deixar de ver. Quando eu conheço algo, aproprio-me dele, trago-o para meu universo de referências e deixo de olhar para todas as particularidades que caracterizam aquele algo como único, singular. Meu olhar torna-se estagnado; olho para FATOS e imagino SOLUÇÕES para os PROBLEMAS que eles supõem. Não mais posso divisar todas as linhas trêmulas que percorrem o objeto a cada instante, não me abro às suas possibilidades, porque não há para mim perspectivas não vistas; o objeto é linear e dele me aproprio; não vejo um objeto que se mostra. Por isso é preferível OLHAR a CONHECER, ANALISAR, DISSECAR. Ou, com tão bem-disse Fernando Pessoa pela boca de Alberto Caeiro:

“(…)Vale mais a pena ver uma coisa sempre pela primeira vez que conhecê-la, porque conhecer é como nunca ter visto pela primeira vez, e nunca ter visto pela primeira vez é só ter ouvido contar.(…)”   Alberto Caeiro